sábado, 21 de junho de 2008

Oração a mim mesmo!


Que eu me permita olhar, escutar e sonhar mais.
Falar menos.
Chorar menos.
Ver nos olhos de quem me vê a admiração que eles me têm e não a inveja que, prepotentemente, penso que têm.
Escutar com meus ouvidos atentos e minha boca estática, as palavras que se fazem gestos e os gestos que se fazem palavras.
Permitir sempre escutar aquilo que eu não tenho me permitido escutar.
Saber realizar os sonhos que nascem em mim e por mime comigo morrem por eu não os saber sonhos.
Então, que eu possa viver os sonhos possíveis e os impossíveis; aqueles que morrem e ressuscitam a cada novo fruto, a cada nova flor, a cada novo calor, a cada nova geada,a cada novo dia.
Que eu possa sonhar o ar, sonhar o mar, sonhar o amar, sonhar o amalgamar.
Que eu me permita o silêncio das formas, dos movimentos, do impossível, da imensidão de toda profundeza.
Que eu possa substituir minhas palavras pelo toque, pelo sentir, pelo compreender, pelo segredo das coisas mais raras, pela oração mental (aquela que a alma cria e que só ela, alma, ouve e só ela, alma, responde).
Que eu saiba dimensionar o calor, experimentar a forma, vislumbrar as curvas, desenhar as retas, e aprender o sabor da exuberância que se mostra nas pequenas manifestações da vida. Que eu saiba reproduzir na alma a imagem que entra pelos meus olhos fazendo-me parte suprema da natureza, criando-me e recriando-me a cada instante.
Que eu possa chorar menos de tristeza e mais de contentamentos.
Que meu choro não seja em vão, que em vão não sejam minhas dúvidas.
Que eu saiba perder meus caminhos mas saiba recuperar meus destinos com dignidade.
Que eu não tenha medo de nada, principalmente de mim mesmo:- Que eu não tenha medo de meus medos!
Que eu adormeça toda vez que for derramar lágrimas inúteis, e desperte com o coração cheio de esperanças.
Que eu faça de mim um homem sereno dentro de minha própria turbulência, sábio dentro de meus limites pequenos e inexatos, humilde diante de minhas grandezas tolas e ingênuas (que eu me mostre o quanto são pequenas minhas grandezas e o quanto é valiosa minha pequenez).
Que eu me permita ser mãe, ser pai, e, se for preciso, ser órfão. Permita-me eu ensinar o pouco que sei e aprender o muito que não sei, traduzir o que os mestres ensinaram e compreender a alegria com que os simples traduzem suas experiências; respeitar incondicionalmente o ser; o ser por si só, por mais nada que possa ter além de sua essência, auxiliar a solidão de quem chegou, render-me ao motivo de quem partiu e aceitar a saudade de quem ficou.
Que eu possa amar e ser amado. Que eu possa amar mesmo sem ser amado, fazer gentilezas quando recebo carinhos; fazer carinhos mesmo quando não recebo gentilezas.
Que eu jamais fique só, mesmo quando eu me queira só.

Amém.

Oswaldo Begiato

Metade


Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca,porque metade de mim é o que eu grito, a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe seja linda ainda que triste.
Que a mulher que amo seja pra sempre amada mesmo que distante,porque metade de mim é partida, a outra metade é saudade.
Que as palavras que falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor, apenas respeitadas.Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos, porque metade de mim é o que ouço, a outra metade é o que calo.
Que a minha vontade de ir embora se transforme na calma e paz que mereço.
Que a tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada,porque metade de mim é o que penso, a outra metade um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste e o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso que me lembro ter dado na infância, porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito e que o seu silêncio me fale cada vez mais, porque metade de mim é abrigo, a outra metade é cansaço.
Que a arte me aponte uma resposta mesmo que ela mesma não saiba e que ninguém a tente complicar, pois é preciso simplicidade pra fazê-la florescer, porque metade de mim é platéia a outra metade é canção.
Que a minha loucura seja perdoada porque metade de mim é amore a outra metade também.



domingo, 15 de junho de 2008

TRILHOS


Damos os primeiros passos trôpegos
Com a ânsia de agarrar o mundo de uma vez.
Passo a passo descrevemos com a ingenuidade de uma criança
Todo o rumo que nós queremos.
Escolhemos a cada dia, a cada minuto
Os trilhos que nos hão-de guiar.
Caminho certo, caminho errado
Procurando sempre acertar.
Mas na tentativa de evitar o erro
Como se o bem fosse a única alternativa
Damos connosco, de vez em quando
Em becos sem saída.
Têm saída, sim senhor
Por muito que não nos pareça
Deixemos o tempo passar
Não queiramos apagá-los depressa.
Ensinam-nos que o obstáculo é para ultrapassar
E que jamais se pode contornar
Pois humano que é humano
Sofre na pele a dor do seu engano
Com ele aprende, com ele cresce
Com ele se fortalece.
Segue em frente de cabeça erguida
Pois sente que o engano não foi vida perdida
Mas antes um crescimento interior
Que agora ao olhar para trás
Sabe de cor…
Porque vê o sentimento e o engano com outros olhos
Os olhos de quem aprendeu
Que o sofrimento em si lhe deu
As orientações rumo à direcção certa.
Entre passos certos e errados
Traçamos trilhos que persistem,
Transeuntes que à procura da sua felicidade
Jamais se rendem, jamais desistem!

sábado, 14 de junho de 2008

A FORÇA DE UM AMOR


Chegado em silêncio, sem sequer se anunciar
Quando olhei tinha-te perto … não podia esperar.
De onde vieste, porque me procuras-te
Que eu te deixei de tão marcante?
Chegas-te sem voz e sem voz partis-te,
Como quem entra numa realidade irreal,
Num sonho bem acordado
Numa verdade ideal.
Acreditas hoje como no primeiro dia
Sem hesitações…
Sempre seguro e a sonhar
Que um dia há-de chegar…
Esse dia em que não partes
E onde comigo te debates,
Sempre pronto a acreditar que esse dia irá chegar
Para do meu dia fazeres parte!
Lutas com as forças de um guerreiro
Para que sejas o primeiro a mostrar
Que o amor tem a arte de nos ensinar
Que podemos voltar …a AMAR!
Basta, portanto, acreditar
Olhar para trás sem hesitar
Porque o presente está perante nós
E o futuro não pode esperar!
Não nas linhas das nossas mãos
Mas no cruzar das nossas vidas
Lê-se o destino que Deus escreveu.
Outrora sem sentido
Jamais fora percebido…
Foi ao amor que Deus nos prometeu!
Aceita-o sem olhares para trás
Porque coração fechado
É coração apagado.
Abre a tua alma à liberdade do sentimento
Vive este amor por fora e por dentro,
E entrega-te de corpo e alma a quem te ama!